Já ouviu falar sobre AAVE? Entenda a história afro-americana

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Já ouviu falar sobre AAVE? Entenda mais sobre a história afro-americana

Um dos rappers mais populares dos EUA, o Wiz Khalifa tem um som chamado We Dem Boyz. Embora você possa não encontrar termos como “dem” ou “boyz” em qualquer dicionário, essa escolha de título está longe de ser um erro gramatical. Na verdade, o que tem mesmo é muita história e tradição nesse rolê.

E é por isso que este post aqui vai falar do Black English, ou AAVE. Mostrarei o contexto histórico desse vocabulário, alguns exemplos práticos que você pode até reconhecer e a importância de não sair adotando esses termos por aí. Vem comigo!

O que é Black English?

O African American Vernacular English (AAVE), também conhecido pelo termo mais comum Black English, é o resultado da junção de idiomas de origem africana com o inglês.

Você também vai encontrar outros nomes como African American English ou Ebonics (uma combinação das palavras “ébano” (em referência à cor da pele dos afro-americanos) e “fonética”). Ao usar qualquer um desses nomes, estamos sempre falando da mesma coisa, ok?

De acordo com um acadêmico citado por uma matéria do jornal Washington Post, o AAVE nasceu com os negros escravizados que viviam no sul dos EUA, separados de seus países e línguas nativas, ainda sem falar inglês fluentemente.

À medida em que os negros americanos se moviam para o norte e oeste durante o período histórico conhecido como Grande Migração, levaram o African American English com eles. Aí, cada região criou versões ligeiramente diferentes do inglês afro-americano ao longo do tempo.

Ainda era preciso se comunicar com os outros norte-americanos: aí, o Black English também se tornou um meio-termo entre as línguas nativas já faladas e o idioma praticado na América.

Foi assim que surgiu o Black English, nascido da necessidade de os negros aprenderem a língua inglesa, mas preservando alguns elementos que já estavam enraizados no modo com que eles se comunicavam entre si.

A chegada do Ebonics ao mainstream

Com a explosão do hip-hop e da música pop afro-americana em geral, principalmente a partir das décadas de 1980 e 1990 com a ascensão de artistas como Dr. Dre, Snoop Dogg e 50 Cent, o dialeto foi ganhando mais visibilidade, tornando-se presente até mesmo nos horários nobres da TV americana.

O problema, como veremos com mais detalhes adiante no texto, é que muitas pessoas não negras passaram a querer utilizar esses termos, ainda que não tenham familiaridade com essa cultura além do hip-hop ou não tenham raízes africanas.

Outro detalhe é que o Black English também está presente em outros países, não somente nos Estados Unidos. Na Inglaterra, também há o Black British, que marca a mistura entre o inglês britânico e as línguas nativas africanas dos imigrantes.

Interessante saber alguns dos usos dessa variante da língua, né? Olha só!

Depois dessa mini-aula de história americana, nada melhor para entender de vez o que é o African American English do que com alguns exemplos práticos, né? Bora lá:

  • o African American English tem um vocabulário distinto, com novos significados para palavras tradicionais do inglês. Slay, que significa “matar, assassinar, aniquilar”, acabou virando sinônimo de “detonar, mandar muito bem”, principalmente com a ajuda de Beyoncé na música Formation;
  • utilização do double negative, com duas negações em uma mesma frase. Um exemplo: I don’t know nothing (Eu não sei nada);
  • uso muito frequente de ain’t, uma contração negativa que pode significar diversas coisas: am not, is not, are not, has not ou have not. Exemplos: I ain’t saying nothing to you (Não estou dizendo nada para você) e It ain’t right (Não está certo);
  • no Ebonics, costuma-se “comer” o verbo to be das frases em alguns casos. Aí, é comum aparecer frases como o We cool (sem o are no meio, literalmente, “Nós bem” ao invés de “Nós estamos bem?”) ou He my brother (sem o verbo de ligação is, literalmente, “Ele meu irmão” ao invés de “Ele é meu irmão”). Outro exemplo frequente em músicas de rappers é Where you at? (“Onde você está?”), novamente omitindo o are;
  • omissão de consoantes na pronúncia. Assim, buying (comprando) pode virar buyin’;
  • utilização de don’t para todas as pessoas. Pense que, de acordo com as regras gramaticais do inglês, usamos o don’t somente para I, you, we e they (Eu, você, nós e eles/elas). Quando é he, she ou it, devemos usar doesn’t. Então, muda bastante coisa, né? Você vai ouvir frases como: This dude don’t look too well (“Esse cara não parece muito bem”) no lugar de He doesn’t look too well, ou He don’t know (“Ele não sabe”) no lugar de He doesn’t know;
  • e como já citei aqui no início do artigo, no Black English, você encontra dem no lugar de them e dat no lugar de that.

Muito cuidado para usar o Black English

Como já mencionei, o AAVE está muito ligado à história da população negra norte-americana. E é por isso que sempre dá um problemão danado quando alguém de outra raça utiliza uma palavra como a polêmica N word — dica do Monkey: não use. Simplesmente NÃO.

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Importante também: utilizar essas expressões em contextos mais formais, como reuniões, não é recomendado. Estamos falando de uma forma mais informal de falar inglês, sabe?

Além disso, aquela matéria do Washington Post que citei no início mostra como o Black English está sendo culturalmente apropriado por pessoas não negras, que acreditam estarem usando um tom mais agressivo e intimidador ao usar o Ebonics. Ou seja, acabam estabelecendo a relação de que o AAVE é ligado a pessoas com raiva e agressivas.

Isso não é muito legal, né? Desvaloriza a cultura negra e associa algo tão rico e popular como o African American English a aspectos negativos.

Como boa parte dos artistas mais influentes dos EUA hoje são negros (Kendrick Lamar, Beyoncé, Jay-Z, Rihanna, Cardi B e uma infinidade de outros), termos do AAVE acabam se popularizando na internet, e daí são apropriados pela Geração Z (os nascidos entre os anos 1995 e 2010).

Assim, o AAVE acaba também sendo classificado como simplesmente “vocabulário de jovens”, sem qualquer contextualização e contribuindo para apagar parte da rica história negra. Embora essa popularização seja bem bacana em alguns aspectos, nada melhor do que conhecer um pouco melhor todo o contexto por trás.

Antes de falar, que tal escutar?

Para você entender mais sobre o assunto, é uma boa ver vídeos com pessoas negras falando mais sobre o AAVE. Um exemplo é o conteúdo do canal Babbel USA:

Agora, se você quiser mais um pouquinho de perspectiva histórica, confira este vídeo do canal BETNetworks:

Também há um TED Talk dedicado ao AAVE:

Agora que você sabe o que é o AAVE (Black English), também conhecido como Ebonics ou African American English, já poderá entender um pouco mais do contexto de letras de música, filmes, séries e de lutas raciais que estão presentes nos Estados Unidos.

Só tome muito cuidado para não transformar alguma das palavras que citamos aqui em expressões do dia a dia, sem qualquer contexto. Estudar o Black English é uma maneira de complementar os seus próprios estudos da língua inglesa — e aprender inglês de verdade, de maneira ampla!

Aproveite a visita e parta para outra leitura do blog: mergulhe mais fundo na cultura americana!

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